Li ontem a excelente entrevista de Eduardo Lourenço, publicada na revista "Pública" do passado domingo. Não resisto a deixar aqui alguns excertos interessantes dessa entrevista:
"É lamentável e dramático que a Europa pense que está completa sem a Rússia".
"Nesta hora de revivalismos religiosos, e ao mesmo tempo de desertificação, pelo menos aparente, das formas de religião que condicionaram a vida da Europa durante tantos séculos, eu, francamente, considero que os valores do cristianismo não desapareceram, se é que alguma vez entraram como deviam. Penso que esses valores são ainda o futuro do passado, e não a sua morte".
"[O papa] veio despolitizar o discurso da Igreja e é um grande teólogo. (...) Nesse capítulo, é um papa muito mais aberto do que o anterior, o célebre atleta de Deus. Em todo o caso, estamos num mundo em que nem a palavra dele, nem a de ninguém, tem qualquer eco. Qualquer vedeta de televisão é muito mais importante do que ele. É pena".
"Agora estamos todos, seja aqui ou na Patagónia, a ver o mesmo ecrã. É como o cosmonauta que viu a Terra de fora pela primeira vez. Só que agora a vemos na televisão ou na internet. (...) A televisão tem esta capacidade de estar em toda a parte, mas é um espelho que também nos pode reduzir à dimensão de um quarto de dormir. (...) O que nos interessa mesmo é o que se passa cá em casa".
"O mundo é uma Bolsa. E, portanto, o jogo político, que tinha uma dimensão própria, é hoje o subproduto de um jogo muito mais profundo e radical, que é o das forças de transformação da sociedade, que são de ordem económica, financeira e científica. São elas que comandam tudo o resto".
"O Deus, a que as sociedades se referiam quando ainda havia uma referência transcendente, desapareceu, e estamos agora diante de fenómenos de dinâmica pura. Tudo passa pelos fins da máquina produtiva mundial, que se torna mais abstracta ainda por ser, fundamentalmente, do tipo financeiro. E é uma máquina que se vai destruindo a si própria".
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