O Blogue De Rerum Natura deu a conhecer um excerto de uma entrevista a Carl Sagan, incluído no livro "Conversas com Carl Sagan", recentemente lançado pela editora Quasi.
"P. Como é que a ignorância acerca da ciência prejudica as pessoas no seu dia-a-dia?
R. Vivemos numa sociedade totalmente dependente da ciência e da tecnologia e no entanto arranjamos as coisas de forma a que quase ninguém compreenda a ciência e a tecnologia. Eis uma receita infalível para o desastre. Todos os dias são tomadas decisões em Washignton que irão afectar o nosso futuro, coisas como as auto-estradas da informação ou a redução dos arsenais nucleares, a investigação sobre o vírus da SIDA, o debate sobre se as drogas que aliviam as dores dos moribundos devem ser descriminalizadas, qual é o melhor rumo para que a América continue a liderar a indústria da tecnologia, como lidar com a diminuição da camada de ozono, ou o aquecimento global. É difícil encontrar-se algum aspecto das sociedades modernas que não dependa de tomadas de decisão inteligentes no âmbito da ciência e tecnologia. É suposto sermos uma democracia. É suposto que o povo se assegure de que os seus representantes votem correctamente. Como é que podem fazer isso se nem sequer conhecem os temas em cima da mesa, ou se os conhecem e não são capazes de entendê-los?
P. Porque é que as pessoas não estão a acompanhar a ciência?
R. (...) As causas, estou convencido, são as seguintes: a ciência é difícil, a ciência nem sempre vai de encontro aos nossos sonhos, a ciência nem sempre nos conforta, a ciência coloca imenso poder nas mãos de pessoas das quais temos todas as razões para desconfiar. Os cientistas são responsáveis, num certo sentido, através da engenharia, pela diminuição da camada de ozono, pelo aquecimento global e tudo o resto. Mas muitos cientistas dirão, 'alto lá, estamos apenas a fazer o nosso trabalho. Tudo isso resulta de má aplicação da ciência por parte dos governos e da indústria.' Até certo ponto, é verdade. E até certo ponto os cientistas têm sido muito corajosos ao chamarem a atenção para os perigos oferecidos por essas tecnologias. Porém, ainda assim, se não tivéssemos a ciência não teríamos estes problemas. Mas também teríamos uma esperança de vida de 25 anos, a mortalidade infantil seria imensa, e muitas das coisas que tornam a vida agradável não existiriam".
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