No sistema científico nacional, nos concursos para financiamento de projectos, até há pouco tempo o nível mais alto de seriação era “excelente”, acompanhado de uma escala numérica, sendo, regra geral, os projectos “excelentes” recomendados para financiamento.
Em tempo de vacas magras, claro que a fasquia sobe e menos projectos são financiados, mas o último concurso teve uma novidade: a classificação de “excelente” deixou de ser o topo. Agora existem duas mais altas: “marcante” ou “notável” (outstanding no original em inglês) e “excepcional”. Um projecto “excelente” está agora longe da fasquia do financiamento, ficando a esperança de que tal epíteto sirva de palmadinha nas costas.
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Combaterei sempre a promoção da mediocridade, na ciência, como noutra qualquer área, mas o que quero com este exemplo ilustrar é que, a partir de certos limites, a “excelência” ou a “exclusividade” são bem mais nocivas do que benéficas e não é só com estas elites que construímos o futuro. Algumas delas estão tão ocupadas nas suas redes de excelência que se esquecem de fazer escola, deixando um vazio na sua instituição quando o seu tempo físico acaba, muito mais difícil de colmatar do que se se tivesse apostado nalguma redundância e divisão de recursos.
Gonçalo Calado, in "Público", hoje.
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