Já por seis vezes dei de caras com a morte. E por seis vezes a morte desviou os olhos e deixou-me passar. É claro que a morte vai acabar por me tolher o passo - como faz a toda a gente. A única questão é quando. E como.
Aprendi muito com os nossos encontros - principalmente sobre a beleza e a doce pungência da vida, sobre o valor inestimável dos amigos e da família e sobre a força transformadora do amor. [...] Adorava acreditar que, quando morrer, vou voltar a viver, que uma parte de mim que pensa, sente e recorda vai continuar.
[...] O mundo é tão admirável, tão cheio de amor e profundidade moral, que não há razão para nos iludirmos com lindas histórias sem sentido que se veja. Vale bem mais, acho eu, que na nossa vulnerabilidade olhemos a morte nos olhos e nos sintamos gratos em cada dia pela breve mas magnífica oportunidade que a vida nos dá.
Há anos que mantenho ao lado do espelho diante do qual faço a barba - para o ver todas as manhãs - um postal encaixilhado. [...] Diz assim: "Caro Amigo, Apenas umas linhas para mostrar que estou vivo e de saúde e a passar um belo bocado. Isto é o máximo! Seu, WJR"
(WJR viajava no "White Star Liner Titanic" e foi uma das 1500 vítimas do naufrágio deste navio).
Carl Sagan, in "Biliões e Biliões"
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