Ao longo dos últimos 12 anos, acompanhei de perto a aventura olímpica de Maia e Brenha. Lembro-me, com grande satisfação, da forma como foram criando uma ilusão inédita conforme iam ultrapassando, em Atlanta 1996, os diversos desafios. Em particular, ficou-me na memória a forma como os dois, cobertos de areia, celebraram a vitória nos quartos-de-final, que lhes permitia ir disputar uma medalha. E como, por momentos, foram as estrelas da transmissão da NBC. Lembro-me, nessa época, do João Gobern, então enviado especial da Visão aos Jogos e meu companheiro de tantos dias e jornadas, me confidenciar: «Estes já me deram o título que eu procurava: 'trabalhar para o bronze'».
Lembro-me de me ligarem de Portugal a darem-me conta do enorme entusiasmo que a então surpreendente dupla ia criando. «É o desporto perfeito para os portugueses, pois tem bola e praia», dizia-me o Paulo, meu irmão, sem saber que me estava a incentivar a ocupar mais uma quantas páginas de «A Capital» com as façanhas dos dois homens de Espinho.
Lembro-me, depois, já nos Jogos de Sydney, de ouvir a frase mais verdadeira e cruel que jamais presenciei sair da boca de um atleta olímpico. Foi dita pelo João Brenha após a dupla falhar, pela segunda vez consecutiva, a conquista da medalha de bronze, ao perder o decisivo e ingrato jogo para a atribuição do terceiro lugar, tal como tinha sucedido em Atlanta. Com os olhos raiados de água, Brenha foi demolidor: «Passei quatro anos a sonhar com uma segunda oportunidade, e afinal agora quando a tive... voltei a perder». Jamais esquecerei esta frase, o momento e a expressão dele.
Tive, no entanto, a sorte de pouco tempo depois ver Maia e Brenha experimentarem a alegria de uma vitória internacional. Foi em 2001, na Turquia, integrado na delegação portuguesa que, com a equipa de vólei do Sporting de Espinho, foi à final da Fed Cup, uma espécie de Taça UEFA do voleibol. Não só assisti ao triunfo dos portugueses como o relatei e ajudei a que o mesmo ficasse registado numa chamada de capa da edição dessa semana da VISÃO.
Lembro-me, finalmente, da forma como os dois se comportaram dignamente (apesar das lesões que os fustigavam) nos Jogos de Atenas, em especial na noite em que demoliram a dupla grega, numa espécie de vingança da final do Euro 2004.
Lembro-me, também, da forma como, por portas travessas, consegui convencer a comitiva presidencial de Jorge Sampaio a ir assistir a um desafio de Maia e Brenha, nesses mesmos Jogos.
Lembro-me do ar molengão, mas sempre solidário e tantas vezes surpreendente de João Brenha, capaz de resolver uma jogada quando menos se esperava.
Lembro-me, de ter presenciado ao vivo alguns dos melhores momentos do maior jogador português de vólei de todos os tempos: o sempre circunspecto, mas genial, Miguel Maia.Lembro-me disto tudo... e já tenho tantas saudades!
Rui Tavares Guedes, em Rumo a Pequim
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