João Sem Medo vivia em Chora-Que-Logo-Bebes, exígua aldeia aninhada perto do Muro construído em redor da Floresta Branca, uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos.
Os choraquelogobebenses não se atreviam a devassar a Floresta e, com excepção do João Sem Medo, choravam de manhã à noite.
Ora um dia, João Sem Medo, farto de tanta chorinquice, decidiu saltar o Muro, onde alguém escrevera este aviso: É proibido a entrada a quem não andar espantado de existir, e embrenhar-se na Floresta.
Ao fim de breves minutos de percurso, João Sem Medo foi agarrado por um velho sobreiro com dez troncos em forma de braços humanos e cinquenta galhos curvos como garras que resolveu jogar voleibol com ele. Durante quilómetros, no meio do entusiasmo do público, das pedras e das gargalhadas vegetais dos jogadores, o corpo do rapaz passou de árvore em árvore como uma estranha bola de carne e osso. A tortura só terminou quando o treinador, escondido no vento, deliberou:
- Por hoje, basta de treino. Deitem a bola fora e toca para o duche.
As árvores obedeceram prontamente, arrojaram o corpo do João Sem Medo para o chão e despiram as camisolas de casca e as cuecas de cortiça para se deliciarem com um banho que as nuvens generosas se apressuraram a verter no Balneário do Vale.
Excerto adaptado, sem IA, de Aventuras de João Sem Medo, de José Gomes Ferreira. Descubram as diferenças relativamente ao original.
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