Emílio então falou-me de si. (...)
Com a morte da mãe e do pai, aos 10 anos, um tio tomou conta dele. Era um tio-avô? - a única pessoa da família que lhe restava.(...)
O tio reaprendia com o sobrinho a verdade da juventude, colaborava com ele, portanto sem o "educar".
- Mas sem me contrariar ajudava-me imenso.
Passeava com ele, estudava com ele aplicadamente, dizia dos exercícios que Emílio fazia nas aulas: "correu-nos bem, apanhamos um 13"; ou: "não tivemos sorte desta vez". (...)
- Uma vez vim aqui (à estalagem do Jeremias) com o meu tio - disse.
- Bom, eu tinha feito um mau exercício. E tive nota baixa. Voltei a casa sucumbido. Ele viu-me assim "em baixo" e animou-me: "trabalhámos quanto pudemos, não é? Não tivemos foi sorte. Acho que merecemos uma recompensa, apesar de tudo. Vamos daí jantar ao Jeremias". Ora ele não sabia que eu não tinha pegado em livro. Quase nem comi. Doeu-me mais o "prémio" do que um castigo... Um castigo se calhar também une. Mas o velho tio era assim.
Adaptado de "Estrela Polar", de Vergílio Ferreira
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